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Nota de Balanço da Greve da Gestão do CeUPES

  • CeUPES Ísis Dias de Oliveira
  • 23 de nov. de 2023
  • 5 min de leitura

Vimos nesse último mês uma greve que, apesar de massificada, não conseguiu concretizar suas principais reivindicações.

À medida que o movimento se desenrolava, percebemos como os diversos vícios do ME tradicional, muitos dos quais nós também reproduzimos, estavam sendo danosos. Entendemos que são vícios gerais, prejudiciais ao movimento como um todo, havendo a necessidade – e o dever – de realizar a crítica aberta, afinal os estudantes percebem esses vícios e sua reação a eles não deve ser ignorada.


Retomando os momentos anteriores à greve e os seus momentos iniciais, a gestão percebia a falta de adesão dos estudantes independentes aos espaços do ME e pensava de que modo poderíamos superar isso e conseguir maior participação. Já vimos, e hoje vemos com ainda mais clareza, que isso se deve muito a essa lógica cupulista e disputista do Movimento Estudantil, que afasta estudantes independentes e acaba por não conseguir massificar os espaços e, consequentemente, não concretiza muitas de suas pautas.


Quando vemos a quantidade de estudantes dispostos a piquetar o prédio e a ir até a administração da FFLCH após o “fato político Paulo Martins”, sabemos que existe sim uma vontade de fazer algo, a questão é como manter essa vontade por bastante tempo. Daí a importância do comando de greve aberto e, principalmente, da eleição de independentes como delegados do comando de greve em conjunto com estudantes organizados.


Lemos esse momento inicial como muito positivo no nosso curso. Apesar dos problemas a nível USP-DCE, conseguimos, no nosso curso, um início de greve com bastante adesão, com solidariedade, trabalho conjunto entre independentes e organizados extremamente positivo e que deveria apontar para os rumos do ME após a greve.


No decorrer da greve, muito por conta de erros das direções durante o processo, o que acabava frustrando os alunos, mas também por uma falta de planejamento anterior à greve — como foi feito na Letras, por exemplo, com a incorporação das pautas pelos alunos e a existência de comitês antes da greve —, observamos também o esvaziamento do espaço da universidade. Cada vez menos estudantes conseguiam ou se disponibilizavam para ocupar o verde e entendemos isso como uma consequência normal do próprio movimento, mas também de uma falta de apropriação dos objetivos que motivariam a continuidade da ocupação no dia a dia, sem uma ameaça iminente a qualquer momento. Nesse sentido, o período de greve seguiu a lógica reativa do ME, com grande adesão dos estudantes quando ocorriam fatos políticos, mas com pouca participação no cotidiano do movimento.


O que apontamos aqui é que, apesar dos bons momentos iniciais na sociais, na USP, e posteriormente também no nosso curso, tivemos uma falta de unidade tática entre as forças para ter um movimento geral coeso e, sobretudo, a falta de diálogo honesto com as bases — desde os períodos anteriores à greve — que tinha o potencial de massificar os espaços. As falhas observadas na greve advém de muito antes dela: o contexto de pandemia, além de contradições e vícios do ME que se mantiveram na greve. As iniciativas não eram feitas de maneira democrática, não havia decisões coletivas de quem tocaria qual trabalho e nem acordo sobre como tocá-lo. Também vivemos uma falta de organização no geral, o que também é um sintoma da falta de pertencimento e comunidade no movimento, levando ao abandono dos trabalhos por algumas partes e a sobrecarga de outras.


Paralelamente a essa exaustão do movimento geral e a indignação de muitos, a greve também enfrentou dificuldades concretas, como a estrutura burocrática da USP, que é extremamente difícil de ser alterada. Apesar das negociações e do preparo dos negociadores, a Reitoria soube conduzir o processo a seu favor, se recusando a negociar, alterando atas e gastando horas das reuniões para falar de métodos. Não tínhamos clareza da burocracia universitária e nem de como driblar essa estrutura. Nesse sentido, focar nas negociações ao invés de ter como prioridade massificar o movimento também foi um erro.


Nesse momento, houve quem defendia o fim da greve, posição válida, mas que foi muito debatida por meios cupulistas, excluindo a base estudantil do debate e aqueles que defendiam sua continuidade apesar do esgotamento do movimento. Aqui, é essencial lembrar que apesar da greve ter se mantido na sociais, muitos cursos já haviam saído da greve por diversos motivos, como os já citados acima. A greve já não era geral e, por essa razão, não tinha fôlego, força ou muito mais a conquistar como greve.


Entretanto, voltando para a sociais, vemos que tivemos um início positivo na greve seguido por um momento de conflitos, tanto por erros internos no curso, como pela conjuntura da USP, mas nosso balanço é de que encerramos a greve no curso de um jeito positivo.


Apesar das poucas conquistas das reivindicações concretas, e temos  clareza disso, precisamos entender o contexto todo para que as coisas se dessem assim. Além disso, consideramos que as maiores conquistas foram políticas, ou seja, o modo como o curso se mobilizou e se organizou para ajudar os demais cursos a piquetar, para dormir no verde, para fazer o calendário de greve, etc. A greve concretizou o que sempre tivemos como objetivo: os alunos, principalmente independentes, participando ativamente dos espaços e, sobretudo, criticando os processos em curso.


Avaliamos que vivemos sim momentos de debates pouco produtivos e reativos, sem que pudéssemos chegar a uma síntese coletiva sobre um assunto tão sério como a greve. Era essencial que tivéssemos o espaço para ouvir e analisar com calma quais táticas estávamos usando, quais as falhas e como avançar. Entretanto, caminhando para o final da greve, realizamos debates e assembleias extremamente boas, com discussões de muita qualidade e respeito, analisando de fato a consequência das nossas ações ao longo do processo todo. Esse saldo político é inegável e ele é o mais importante.


Se quisermos partir para táticas mais radicais e acertadas, como ocupações — de um modo mais massificado do que a ocupação dos blocos K e L — temos que entender a brecha que existe atualmente: um movimento estudantil mais democratizado, com a participação de independentes e espaços de deliberação construídos em conjunto com e pelas bases, disputas honestas e debates sérios, capazes de gerar acúmulos, produzir sínteses e propor alternativas coesas.


A frustração diante do fim da greve é muito legítima, temos limites materiais, mas também muitos erros durante o processo. Entretanto, nosso objetivo é entender que derrotas acontecem sim e que é fundamental que a gente possa saber como não repetir os mesmos erros. Como fazer uma análise qualitativa do momento correto de mudar de uma tática de greve para uma tática de ocupação de um modo massificado e com um preparo prévio. Todas essas coisas tem que ser colocadas para a discussão aqui.


A participação, os debates, as críticas e o ânimo em tentar seguir com alternativas conjuntas e superar nossos problemas internos devem ser reconhecidos, absorvidos e aproveitados para a mobilização coletiva do curso daqui em diante.


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